Um tipo de proteína presente no veneno de algumas serpentes, denominado desintegrina, pode ser a chave para deter a metástase – migração desenfreada de células tumorais cancerosas para outras partes do corpo. A descoberta, que aponta uma nova direção no desenvolvimento da cura do câncer, é resultado de uma pesquisa coordenada pela professora Thereza Christina Barja-Fidalgo, do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Ibrag/Uerj).
Durante a pesquisa, Thereza e sua equipe observaram que diferentes desintegrinas purificadas do veneno de cobras, como a Bothrops jararaca e as espécies asiáticas Agkistrodon rhodostoma e a Trimeresurus flavoviridis, são capazes de reduzir a capacidade de ativação e a migração de células de um tipo de melanoma – um câncer de pele com grande capacidade de formar metástases, especialmente nos pulmões – em camundongos.
Os pesquisadores constataram que as desintegrinas têm a capacidade de bloquear ou alterar a função de outra família de proteínas, as integrinas, proteínas presentes na membrana celular que são utilizadas pelas células cancerosas para se multiplicar.
- A proliferação da célula cancerosa durante a metástase está relacionada à sua capacidade de aderir a outras células e migrar para outros órgãos do organismo. Essa adesão é feita a partir das integrinas e seus ligantes na matriz extracelular - explica a pesquisadora.
As desintegrinas, por terem em sua estrutura molecular elementos semelhantes aos de proteínas da matriz extracelular, “confundem” a célula cancerosa e interagem com as integrinas. Desse modo, elas impedem sua associação às proteínas de matriz extracelular e própria migração tumoral.
Para testar o efeito das desintegrinas, a equipe vem realizando, desde 2005, experimentos in vitro (apenas em células) e testes em cobaias, no Laboratório de Farmacologia Bioquímica e Celular do Ibrag/Uerj.
Os resultados foram animadores. Segundo Thereza, nos camundongos que receberam as desintegrinas, o processo de metástase diminuiu substancialmente. Já no grupo de animais que não recebeu a medicação, houve uma alta formação de tumores no pulmão. No entanto, ainda não sabe o efeito dessas desintegrinas sobre outros tipos de tumores cancerosos.
Para Thereza, um dos grandes desafios de utilizar o veneno de serpentes em pesquisa é o alto custo. Ela explica que o veneno de serpentes tem centenas de proteínas e as desintegrinas são apenas uma fração mínima na composição dele, o que torna o processo de isolamento dessas proteínas custoso e de baixa produção. A próxima etapa do projeto será estudar o efeito das desintegrinas em células de melanomas humanos, in vitro.
Fonte: http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/03/17/e170323670.asp
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