O Herceptin, um remédio contra o câncer de mama, talvez também possa ser usado para o tratamento de câncer de estômago, de acordo com os resultados de um estudo anunciado no domingo durante o encontro anual da Associação Americana de Oncologia Clínica, em Orlando, Flórida.
Os cientistas também anunciaram que uma nova categoria de medicamentos conhecidos como "inibidores de PARP" se provou promissora no combate a formas renitentes de câncer de mama, e que uma vacina contra o câncer linfático não associado ao Mal de Hodgkins parece ter apresentado resultados positivos em um terceiro teste, depois de fracassos nas duas primeiras tentativas.
Em um estudo patrocinado pelo grupo farmacêutico Roche, que fabrica o Herceptin, pacientes de câncer de estômago que foram tratados com esse medicamento, além da quimioterapia utilizada normalmente para combater a doença, apresentaram sobrevivência média de 13,8 meses, ante 11,1 meses para aqueles que receberam apenas o tratamento quimioterápico padrão.
O Herceptin é utilizado no tratamento de cerca de 20% das mulheres cujos tumores de mama apresentam incidência abundante de uma proteína conhecida como Her2. No novo estudo, os médicos envolvidos constataram que 22% dos 3.807 pacientes de câncer estomacal em estado de metástase que eles examinaram também apresentavam altos volumes de Her2 em seus tumores. O estudo envolvia um total de 594 pacientes com presença elevada da proteína Her2.
O câncer estomacal, também conhecido como câncer gástrico, é uma doença rara nos Estados Unidos, com cerca de 21 mil novos casos surgidos a cada ano, mas se trata de um dos principais tipos mundiais de câncer, com um milhão de casos novos por ano, no total mundial agregado.
Os cientistas reportaram também que os chamados inibidores de PARP podem demonstrar promessa no combate ao chamado câncer de mama triplamente negativo, cujos tumores não apresentam receptores para estrógeno, progesterona e Her2, e portanto não podem ser tratados quer com terapias hormonais, quer com o uso de Herceptin.
Os inibidores de PARP bloqueiam a ação de uma enzima conhecida como Poli (ADP-ribose) Polimerase, ou PARP, cuja função é ajudar nos reparos do ADN. Sem a capacidade de reparar o ADN danificado, as células dos tumores podem morrer ou sucumbir com mais facilidade à quimioterapia.
Em um teste clínico envolvendo 116 mulheres com câncer de mama triplamente negativo, aquelas que receberam o inibidor, além da quimioterapia convencional, apresentaram sobrevivência média de 9,2 meses, ante 5,7 meses para aquelas que receberam apenas a quimioterapia. O estudo está em estágio intermediário.
O medicamento, conhecido como BS-201, foi desenvolvido pela BiPar Sciences, uma empresa de biotecnologia da Califórnia que foi adquirida em abril pela Sanofi-Aventis. Dois outros pequenos estudos demonstram algumas indicações promissoras quanto a um inibidor de PARP que está em desenvolvimento pelo grupo farmacêutico Astra-Zeneca.
Em um terceiro anúncio na conferência, os cientistas informaram que uma vacina contra o câncer que está sendo desenvolvida por uma pequena companhia chamada Biovest Internacional havia prolongado a remissão para linfomas não relacionados ao Mal de Hodgkins a 44 meses, ante 31 meses no caso dos pacientes do grupo de controle.
A vacina não previne o câncer, mas em lugar disso tenta treinar o sistema imunológico do corpo a atacar o tumor. Esse ramo científico tem um histórico de maus resultados, ainda que tenham surgido sinais de progresso recentemente.
Duas outras empresas, Genitope e Favrille, testaram vacinas semelhantes às da Biovest e fracassaram. A Biovest talvez tenha encontrado maior sucesso porque requeria que os pacientes estivessem em remissão há seis meses ou mais, de modo que os tumores a serem combatidos pelo sistema imunológico fossem menores.
Mas esse requerimento implica que metade dos pacientes envolvidos no teste não se qualificassem para o tratamento. Ronald Levy, professor de oncologia na Universidade Stanford e responsável pelo desenvolvimento da tecnologia empregada para a vacina, classificou o teste da Biovest como sucesso qualificado e disse que não estava certo se a vacina teria ou não um papel no tratamento da doença.
Também não está claro se a Biovest, sediada em Tampa, na Flórida, seria capaz de levar o produto ao mercado. Tanto a empresa quanto sua controladora, a Accentia Biopharmaceuticals, pediram concordata em novembro, por não terem conseguido levantar capital junto aos seus investidores. Mas a empresa ainda tem esperança de encontrar um sócio maior.
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