Uma droga conhecida como MDV310 obteve bons resultados contra o câncer avançado da próstata e agora será testada em maior escala. Resultados ainda bastante preliminares com 30 homens estão descritos em artigo na revista "Science" a ser publicado on-line na sexta-feira; outros 110 pacientes estão agora em tratamento, e os resultados deverão aparecer mais tarde.
O câncer de próstata pode ser detectado pelo grau elevado de uma proteína no sangue, o PSA (antígeno prostático específico). Os pesquisadores, liderados por Charles Sawyers, do Centro do Câncer Memorial Sloan-Kettering, de Nova York, relatam que "22 pacientes tiveram um declínio sustentado dos níveis de PSA no plasma sanguíneo por pelo menos 12 semanas, e em 13 desses pacientes o decréscimo de PSA foi maior que 50%".
"É um resultado animador, mas apenas para nós da comunidade científica. Nada estará disponível para os pacientes antes de alguns bons anos", disse à Folha o urologista Stênio Zequi, do Hospital A. C. Camargo, de São Paulo.
A nova droga, disse o médico, poderá ser no futuro uma alternativa para o tratamento de casos avançados. 'Mas várias perguntas ainda podem ser feitas. Ela será útil no longo prazo? Quantos pacientes responderão de forma adequada?'
O estudo agora publicado é da chamada fase 1-2, na qual se procura descobrir a segurança e a eficácia da nova droga em seres humanos. A companhia farmacêutica Medivation recebeu permissão da Administração de Alimentos e Fármacos (FDA) para começar os testes de fase 3, para a avaliação final da droga, em 1.200 pacientes.
As duas drogas descritas no artigo, MDV3100 e RD162, têm ação antiandrogênica, isto é, elas impedem que o hormônio masculino testosterona (um androgênio) estimule o crescimento das células do tumor. "A testosterona é a energia do câncer de próstata", diz Zequi.
Em testes em células e em camundongos, as novas substâncias demonstraram ser capazes de atacar mesmo as células mais sensibilizadas pelos hormônios, que resistem às terapias atuais, como a droga antiandrogênica bicalutamida.
Na célula, quando a testosterona entra em contato com outra substância natural, receptora, esta última se move para o núcleo da célula, gruda no DNA e estimula o crescimento celular. As drogas antiandrogênicas agem impedindo essa mudança para o núcleo, mas há casos graves da doença em que o medicamento não consegue impedir que a ligação celular ocorra.
Após um processo de supressão androgênica primária, diz Zequi, os níveis de testosterona caem bastante. Mas o que se vê hoje é que a doença consegue adaptar-se ao novo cenário e avançar mesmo assim.
Sawyers descobriu que as células cancerígenas da próstata produzem uma grande quantidade do receptor de androgênio. Outro autor do estudo, Michael Jung, da Universidade da Califórnia em Los Angeles, encarregou-se de sintetizar várias moléculas capazes de se ligar ao receptor celular.
A MDV3100 obteve sucesso em pacientes que não estavam tendo resultados com tratamentos hormonais ou quimioterapia.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u547779.shtml
Nenhum comentário:
Postar um comentário