domingo, 8 de fevereiro de 2009

Ação de proteína traz novas possibilidades para terapia de câncer

Um grupo de pesquisadores brasileiros e norte-americanos descobriram o mecanismo que leva a proteína L24, presente no ribossomo das células, a estimular a ação oncogênica do gene myc, responsável por um tipo de câncer (linfoma). O processo, verificado em ratos geneticamente modificados, começará agora a ser estudado em células humanas. Os testes poderão abrir caminhos para novas formas de tratamento do linfoma, substituindo a quimioterapia.

A ação da proteína foi estudada em um dos sub-tipos de linfoma não-Hodgkin, câncer que afeta os linfócitos (células humanas associadas a defesa do organismo). "Cada sub-tipo é responsável por diferentes alterações genéticas", explica Eduardo de Magalhães Rêgo, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, um dos responsáveis pela pesquisa. "No caso estudado, um deslocamento do gene myc para outra região do genoma faz com que ele se expresse em níveis alterados".

O myc aumenta a síntese de proteínas associadas ao ciclo celular, o que provoca o crescimento do volume da célula e a sua divisão, gerando os tumores. "Uma peça chave dentro da célula para a síntese de proteínas é o ribossomo", relata Magalhães. "Desse modo, a premissa do estudo era demonstrar se a redução da atividade do ribossomo inibe a atividade do myc".

Os pesquisadores Davide Ruggero e Maria Barna, da Universidade de San Francisco (EUA), desenvolveram uma linhagem de ratos transgênicos com menor quantidade de L24, uma proteína ribossômica. "Constatou-se que estes animais, saudáveis, não desenvolviam linfoma", aponta o professor da FMRP. "Mesmo nos cruzamentos com ratos transgênicos de myc elevado, o efeito era mantido em seus descendentes, revertendo a transformação maligna".

Estratégias

A descoberta sobre o efeito da proteína do ribossomo L24 na progressão do linfoma associado ao gene myc foi tema de um artigo na edição de janeiro da revista científica Nature. A pesquisa faz parte das atividades do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Células-Tronco e Terapia Celular (INCTC), sediado em Ribeirão Preto, que conta com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Magalhães ressalta que a importância da pesquisa é conceitual. "Trabalhos anteriores já demonstraram que o aumento da expressão do myc está diretamente relacionado às causas do linfoma", ressalta. "Neste estudo, comprovou-se que a L24 é essencial para o crescimento e divisão das células tumorais".

Agora, os pesquisadores irão verificar se os linfomas humanos também apresentam a mesma característica. "Até o momento, não é possível estimar quanto tempo esta nova etapa do estudo levará para ser concluída", aponta o professor. "Porém, espera-se que ela abra caminho para o desenvolvimento de drogas e estratégias que modulem a atividade do L24 na célula tumoral".

O tratamento dos linfomas é feito atualmente por meio de quimioterapia. "Esta técnica elimina tanto células normais quando as linfomatosas", observa Magalhães. "Com a utilização de um fármaco que diminuísse a atividade do L24, as células do linfoma seriam mais suscetíveis ao efeito inibidor, sem afetar as demais".

Fonte: http://www.oserrano.com.br/mais.asp?tipo=Local&id=9079

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